Veio de longe, um som envolvente que jamais vou esquecer entrou pelos meus ouvidos, arrepiou a pele e fez o corpo estremecer e, à medida que se aproximava, esse sentimento ficou fácil descrever, meu coração pulsou do ritmo das alfaias e djembês, minha negritude se aflorou no toque dos agogôs e xequerês. Se ficou curioso, vou contar a história de quem me deixou assim: Abram alas, pois lá vem o Ilú Obá de Mim! Obanixé kaô, abençoadas são essas mãos femininas que tocam para o rei Xangô. É a negra que canta, a negra que dança e que toca instrumento, É arte e cultura, resistência e empoderamento, Com uma batida inconfundível, mistura do jongo, com o côco e maracatu, no carnaval da minha cidade, feliz é quem segue o cortejo do Ilú! Seus temas sempre exaltaram grandes mulheres da nossa história, Candaces guerreiras, rainhas africanas, seus feitos, sua glória. Salve a soberana de Makeda, salve D´Zinga de Angola! Homenageou personalidades que para nosso povo é inspiração, Carolina de Jesus, Raquel Trindade e a madrinha Leci Brandão. Falou sobre Nega Duda, sambadeira de roda, com orgulho profundo e trouxe Elza Soares, a mulher do fim do mundo. Para finalizar, não posso deixar de contar, sobre a emoção de ver em meu bloco, essa filha de Iemanjá, a grande cirandeira pernambucana, Lia de Itamaracá. Vem da zona leste, essa homenagem mais do que necessária, falar sobre o Ilú Obá, é falar sobre a mulher negra e sua luta diária. Que esse manifesto em forma de enredo, ecoe como o toque do meu tambor, eu acredito no samba e no seu grande poder transformador, de romper barreiras e despertar a consciência, pois eu sou da Imperatriz da Paulicéia, onde o carnaval é sinônimo de resistência.
Compositores: J. Veloso, Marquinho Beija-flor, Julio Assis e Fabiano Melodia
DESFILE OFICIAL VISTO DE CIMA, FILMADO POR DRONE
Abram alas, súditos da corte do samba! A Imperatriz da Paulicéia pede passagem para contar a minha história, pois sou o símbolo maior dessa comunidade e meu girar representa a sua glória. Imponente, tenho ligação com esse festejo desde os antigos carnavais, estou presente em alegorias, fantasias e no pavilhão de escolas tradicionais e nessa festa popular, digo com alegria... Brilho soberana na cabeça do rei dessa folia. De ouro, prata ou lata, quem me tem, detém o poder, batalhas aconteceram em meu nome, grandes reinos vi nascer. Ajudei a escrever a história, minha fama não veio à toa, sempre estive com conquistadores e vitoriosos, eu sou a coroa. Cheguei no Brasil com a corte portuguesa, junto de um rei bufão, uma rainha louca e aquele que se tornaria imperador dessa nação,que mais tarde se casaria com Leopoldina, imperatriz por procuração. Na religiosidade do nosso povo, sou lembrado da melhor maneira,tornei-me sagrada, adornando a cabeça de Nossa Senhora, a santa padroeira,e do alto de uma pedreira, veja você, represento a justiça do rei Xangô, kaô kabecilê! Percorri o mundo, sempre cercado de simbolismo, tradição e ritual, reis africanos me fizeram de marfim e pele de animal,na Grécia antiga, para condecorar vencedores, fui feita de louroe representei a ganância do rei que transformava tudo em ouro. Minha riqueza também é cultural, no folclore a tradição assim se fez: Viva a congada! Salve a folia de reis! Cara ou coroa? A sorte está lançada, No baralho sou rei, valete e rainha, em busca da grande cartada. No tabuleiro de xadrez, a dama coroada tem o poder, xeque-mate, a estratégia é vencer. Em nome do luxo, da beleza e felicidade, sou desejada pela miss, um tributo a vaidade. Termino aqui, com uma frase que resume esse momento feliz...“A vida me fez rei e o samba me fez imperatriz!”.
Compositores: J. Veloso, Marquinho Beija-flor, Julio Assis e Fabiano Melodia
DESFILE OFICIAL VISTO DE CIMA, FILMADO POR DRONE